ORIGEM DA SAUDAÇÃO A ỌBÀTÁLÁ



Contam os nagôs igbominas (ìgbómìnàs) em solo brasileiro, que em tempos passados, Ọbàtálá soberano dos igbominas e ifons, caiu em descrédito ante o seu povo e em desagravo perante o criador Olódùmarè. Segundo os nagôs igbominas, a desventura do soberano em questão foi motivada pelo fato do mesmo ter-se tornado um ébrio.
Contam que a fama e o prestígio de Ọbàtálá eram invejáveis. Seu reino, um dos maiores e mais pródigos, era constantemente visitado por outros soberanos que lá iam aprender a administrar seus reinos, uma vez que no reino dele não havia miséria. O povo era imensamente feliz. Ọbàtálá, uma vez a cada quatro dias, concedia em seu palácio audiência ao seu povo. Os primeiros a serem ouvidos eram os menos privilegiados. Deles ouvia queixas, atendia pedidos, fornecia alimentos, sementes e tudo mais necessário para que pudessem sair daquele quadro crítico. Antes do pôr-do-sol, fazia julgamentos, caso fossem necessários, decretava a sentença referente aos erros cometidos e, quando se despedia do seu povo, era saudado: “Bàbá Térùn” (Pai Bondoso).
Infelizmente, o amor dedicado ao povo, a concordância à igualdade e o sentimento de fraternidade pregado por Ọbàtálá não eram bem vistos por todos os habitantes do reino. Temerosos com o que pudesse vir a acontecer mediante a uniformidade pregada pelo seu soberano, alguns dos componentes do conselho de anciões, concomitante com vários dos súditos privilegiados financeiramente, elaboraram, fora da cidade, um plano para colocá-lo em descrédito diante do povo, destituí-lo e exilá-lo para bem longe do reino.
Os opressores do senhor dos igbominas e ifons, sorrateiramente, passaram a colocar pequena quantidade de um pó medicinal (ètù) no vinho-de-palma, que o soberano bebia no dia anterior ao seu pronunciamento junto ao povo. A partir deste dia, Ọbàtálá passou a ficar confuso, pois seus súditos faziam questão de contestá-lo em voz alta na frente de todos, dizendo: “Perdão Majestade, mas não foi isto que disseste na semana passada. Vossa majestade diz uma coisa hoje; amanhã diz outra. Assim não é possível. No final das contas, nós ficamos mal diante dos outros”.
Contrariado e entristecido, Ọbàtálá dava por encerrada a audiência e se recolhia aos seus aposentos, enquanto seus súditos ficavam maldizendo-o e difamando-o. Logo que se recolhia, um dos seus conselheiros lhe oferecia pedaços do fruto do meloeiro juntamente com um cântaro contendo quantidade abusiva de vinho-de-palma.
Toda esta trama foi o suficiente para transformar o soberano dos igbominas e dos ifons num alcoólatra compulsivo. A partir desse incidente, por todos os lugares em que Ọbàtálá passava ou comparecia, era ridicularizado e chamado de ébrio. Os súditos e os poucos ministros, que antes lhe prestavam reverências, não mais o faziam. Seus opressores, sempre às ocultas, continuavam tramando contra o bondoso soberano.
Cansado de tanto humilhação e dependente cada vez mais do vício que o destruía, Ọbàtálá recorreu ao Oráculo Sagrado de Ifá na tentativa de sanar a terrível desgraça que tinha se abatido sobre a sua vida, consequentemente sobre os seus reinos. Após a evocação, um ìwèfà (sacerdote eunuco) interpretou para o soberano a mensagem cifrada do oráculo sagrado: “A partir de hoje deverás abster-te do vinho-de-palma. Beberás somente das bebidas que antes forem degustadas por teus súditos em tua presença. Deverás também fazer uma oferenda de duas pombas, dezesseis penas da cauda do papagaio-da-costa (ikódíde), um aso-igúnwà (manto real) feito de linho cru, dezesseis bolas de limo-da-costa e um colar de contas feitas do marfim. Não deverás também jamais sentar-te à mesa junto aos teus déspotas, evitando assim que eles te traiam novamente”.
Dando continuidade à leitura oracular, o ìwèfà informou a Ọbàtálá que deveria subir ao topo de uma colina que ficava à entrada da cidade de Ifón antes do nascer do sol. Ao chegar ao topo da colina, deveria vestir o traje real (aso-igúnwà), colocar sobre sua cabeça a coroa (aré), prendendo no mesmo as dezesseis minúsculas bolas de limo-da-costa. Deveria fixar em cada uma delas uma pena da cauda do papagaio-da-costa, colocar o colar em seu pescoço e por fim, quando os raios solares apontassem no leste, soltar os dois pombos para diferentes caminhos: um em direção à cidade de Ìgbó e o outro em direção à cidade de Ifón.
No dia seguinte, Ọbàtálá tratou de realizar o ritual determinado. Antes do alvorecer, vestiu o aso-igúnwà determinado, colocou o aré (coroa) adornado com as penas do papagaio fixas nas bolas feitas com o limo-da-costa e posiciona-se de costas para o Leste, conforme as determinações oraculares.
Tão logo os primeiros raios de sol surgiram no leste, várias aves entoando seus cantos com veemência começaram a voar em torno da colina. O som estridente das cantorias das aves despertou os habitantes de Ifón que ao verem as aves dispersarem de Ọbàtálá, ficaram atônitos diante do fenômeno da transformação que acontecia com ele. A estupefação foi geral, No momento em que os raios solares surgiram com intensidade por trás de Ọbàtálá, dada-lhe foi a impressão de estar flutuando sobre a colina. Nesse momento, as dezesseis penas (vermelhas) do papagaio-da-costa fixas no coroa (aré) deram a impressão de ser labaredas que saiam da cabeça de Ọbàtálá, formando um imenso e magnífico resplendor.
Diante de tal visão, os súditos, totalmente aterrorizados e arrependidos, prostraram-se ao chão exclamando: “Elésè Esè Epà Bàbá! Ãbò mi nlá” (Oh, Pai! Pecadores aos teus pés! Meu grande amparo!).
O episódio da transformação do grande venerando Ọbàtálá, soberano dos igbominas e ifons correu por terras da África. Por todos os lugares falava-se do seu poder de metamorfose. Este poderio devolveu-lhe todo o prestígio e respeito que havia perdido perante os seus súditos, bem como a complacência de Olódùmarè.

BIBLIOGRAFIA: PENNA, Antonio dos Santos, Èjì Ogbè Àwon Àmúlù – Èjìonile e Suas Conbinações. Páginas 200, 201 e 202 – Produção Independente: RJ, 2001 – Ano 2003.

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